O caso que mais chamou a atenção nos últimos dias na mídia foi o estupro coletivo brutal de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro. Principalmente pela divulgação do crime em redes sociais, colocando em evidência um fato que ocorre cotidianamente em nossa sociedade e mostrando a grande desigualdade de gênero que enfrentamos em pleno século XXI.
O estupro se apresenta como um tema bastante complexo. Em culturas que banalizam o fato, como as conhecemos no mundo atual, o estupro pode ser negado como crime, mas numa sociedade evoluída trata-se de algo inadmissível e passível de punição exemplar.
Colocamos como título deste artigo “a cultura do estupro” e devemos entender isso como um problema que envolve normas de comportamento de determinadas camadas da sociedade, que banalizam e toleram a violência sexual contra a mulher, nas mais diversas formas.
Dentre essas “normas”, ainda é mantida na sociedade a ideia de que o valor moral de uma mulher está diretamente ligado à sua conduta, que deve ser dentro de determinados padrões que inibem a sexualidade, fato notório em nossa forma de encarar o velho tabu do sexo, implantado durante milênios pela religião.
A mulher como culpada pela cultura do estupro
As normas e condutas estabelecidas, via de regra, caracterizam, por si só a falta de direito da mulher sobre o seu próprio corpo. De uma forma geral, uma mulher que se apresenta fora das normas, é também desprezada e tratada como um objeto, como se estivesse disponível para atender a vontade machista de determinados indivíduos.
Diante disso, a mulher deve preservar a sua castidade se quiser ser considerada com respeito, o que é completamente descabido. O caso ocorrido no Rio de Janeiro pode ter como cenário questionamentos como o tipo de roupa que a adolescente usava, o que teria feito para provocar o agressor, a forma como se comportou durante as noites que frequentava e muitos outros quesitos. Como na maior parte dos casos, recai para ela a responsabilidade sobre o estupro e não ter sido a vítima.
A expressão “cultura do estupro”, nascida na década de 1970, foi uma forma de buscar explicar porque este é um crime tão comum em nossa sociedade, mostrando que, quando a mulher é vítima de tal ato, a sociedade sempre lhe impõe alguma culpa. Isso faz com que, ainda em nossos dias, menos de 10% dos estupros sejam notificados. A mulher, pela própria conjuntura social, sente-se mais culpada do que vítima, uma situação que precisa ser trabalhada para evitar a continuidade dessa situação.
Tudo nos leva a considerar que, antes, é preciso maior conscientização da mulher com relação ao próprio corpo e aos seus direitos com integrante do gênero humano e não como coadjuvante. Concomitantemente, também é necessário criar condições de atendimento às mulheres vítimas, notando que, como ocorreu no Rio de Janeiro, o próprio profissional que a atendeu não estava preparado para isso.
Por último, e mais importante, é preciso que as instituições tomem atitudes mais drásticas com relação aos casos de estupro, colocando-o não apenas como um crime hediondo na legislação, mas o tratando como tal.
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